Em 1994, muito antes do termo fake news ser cunhado, uma acusação de abuso sexual em uma escola infantil de São Paulo manchou a história da polícia, da justiça, mas sobretudo do jornalismo no Brasil. Certamente é o pior episódio do jornalismo do país, na qual o repórter Valmir Salário, que deu a notícia em primeira mão, busca nesse documentário histórico refletir sobre o maior erro de sua carreira.
Quem não é jornalista, como eu, talvez não saiba como esse caso é vergonhoso. Então, veja o documentário. Basicamente, de uma acusação estranha de duas mães (psicologicamente discutíveis), a sociedade condenou quatro pessoas, os donos da escola, sem ao menos dar-lhes o direito de contar sua versão da história. Sim, os jornalistas, ávidos pela repercussão do caso, embarcaram na histeria coletiva e esqueceram da premissa fundamental da profissão: ouvir todas as versões da história.
O documentário é didático ao examinar cada passo do caso e seus deslizes. Um processo doloroso para Valmir ao relembrar e desenterrar um passado que, no rosto dele, está carregado de vergonha e decepção. Mas esse filme do #Globoplay, que não é apenas um documentário, é uma obra prima do jornalismo, vai além de contar o caso e mostrar os impactos posteriores. O filme encerra se forma dura, reflexiva e lacrimejante esse episódio que marcou o jornalismo do Brasil.
Como Paula, uma das donas da Escola de Base, conclui de forma pedagógica no filme (como uma boa professora deve sempre fazer): “Que esse caso sirva para que casos semelhantes não aconteçam mais”. E olha, que ainda tem o mistério da carta.
Valmir errou. O jornalismo errou. A Polícia errou muito. A Justiça embarcou na comoção. A sociedade condenou antes de julgar, depredou, colocou fogo e, se tivesse chance, teria matado. Mas Valmir foi jornalista. Voltou para apurar os fatos, pedir desculpas e fazer aqui a sua melhor reportagem. Uma obra prima, mas as fake news continuam por aí. Será que não aprendemos com a Escola de Base?
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